À Simone Mascarenhas, a fada melíflua.

A
vermelhidão-dourada da luminosidade do novo dia veio num lusco-fusco de um gris
indefinido, sem realmente acordar as flores matinais do descuidado jardim; em frente
ao casarão no qual me escondo, sempre que preciso meditar.
Da
sacada do velho sobrado, é possível distinguir em panorâmica visão o leve
bailar dos pêndulos vegetais, grávidos de novas flores, promissores de ininterrupto
parto primaveril!
Abelhas
e formigas, incansáveis e madrugadoras, já se movem no frenético labor de suas
vidas efêmeras; e as borboletas, com suas cores esfuziantes e a simetria de seus
desenhos psicodélicos, fascinando-me num êxtase de beleza e graça; como se
fadas sensuais bailassem provocantes no espaço imenso de minha incurável solidão...!
Hoje elas realmente se superaram e consigo com uma estranha e improvável
clareza distinguir nas silhuetas esguias que esvoaçam por sobre as flores mal
despertas as formas diáfanas e sinuosas das fadas sensuais das minhas fábulas
de infância!
Então,
desci intrigado como a subjetividade a um só tempo surreal e palpável daquela
tangível alucinação matinal!
De
fato, nada mais eram que lindas e comuns borboletas; porém minha inadequada
percepção continuou a insistir em se comunicar com a minha fantasia no plano
imediato da realidade paralela.
E
com a nitidez de uma fonte cristalina sob o sol do meio dia, pude distinguir algumas
das fadas cujos rostos eu já havia conhecido há muito, em fábulas tantas.
A
fada violeta, com seu rosto sério e seus lábios negros, as asas também negras
com seus laivos de um vermelho purpúreo; a fada da lua com a brancura quase
ofuscante de sua pele de um branco-azulado iridescente e suas asas translúcidas
e vítreas; a fada das flores, em variadas cores berrantes e seus cabelos ruivos
cor de fogo, exuberante, em suas formas voluptuosas desprovidas de qualquer
vestimenta.
Tantas
e tantas todas elas, numa explosiva invasão de beleza e indizível êxtase de
solitária e maravilhosa auto-satisfação compensatória desta acompanhada solidão!
Porém,
em meio a toda essa ludicidade bucólica de sonho infantil, algo destoava da magia
daquele momento único; pois, mais para adiante, num isolado canto do jardim,
pude vislumbrar a frágil e mais bela das silhuetas fantásticas: A fada melíflua,
a fada das idéias sem fim, a minha fada predileta!
Ela
continuava como sempre linda e fascinante, com suas formas perfeitas e desejáveis,
no seminu de seu sumário vestido de gaze e suas asas abrangentes de cores leves
e quase translúcidas.
Porém,
no seu olhar havia algo de diferente e incomodo; uma expressão que eu não
consegui identificar, mas que a mim me pareceu que era algo muito forte, pois a
fada se mostrava tímida e retraída, numa fragilidade que me inspirava desejos
de abraçá-la e protegê-la num carinho sem fim; que lhe resguardasse das dores e
das tristezas, próprias do mundo humano.
Os
nossos olhares se cruzaram por um breve momento e nós estendemos nossas mãos
para tocar-nos; mesmo sabendo que se isso acontecesse, o encanto se quebraria e
eu nunca mais veria as fadas no poder mágico de um sonho desperto; mas por um
instante, hesitamos, e eu, numa débil tentativa de consolo, lhe disse apenas
uns versos desconexos:
A FADA MELÍFLUA
Quando a aura matinal
Em luz sã, beija o orvalho;
Branco alvorecer de maio;
Desperta a fada eternal!
E com doçura melíflua,
Pelo poder da brandura,
Emana de si, candura,
Com sua aura eflúvia!
De seu dom em mel imerso,
Pela magia do verso,
Escreve rimas pra mim!
Repletas de amor fraterno,
Qual banho em carinho terno,
Nos dons da fada sem fim!
Quando a aura matinal
Em luz sã, beija o orvalho;
Branco alvorecer de maio;
Desperta a fada eternal!
E com doçura melíflua,
Pelo poder da brandura,
Emana de si, candura,
Com sua aura eflúvia!
De seu dom em mel imerso,
Pela magia do verso,
Escreve rimas pra mim!
Repletas de amor fraterno,
Qual banho em carinho terno,
Nos dons da fada sem fim!
Receba a sinceridade do meu mais terno carinho!
A espada e escudo do Cavaleiro Virtual estarão sempre à sua disposição!
E VOCÊ, O QUE DIRIA A UMA
FADA?