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sábado, abril 18, 2009

Paixões (cronica)

O.D.C. À musa inspiradora dos sonetos de amor. Como, quando e porque, ninguém sabe! A única coisa que se descobriu – depois de sucessivas paixonites e alternadas fossas Byronianas – é que sempre começam bem no meio do de repente. Têm algumas que são clássicos de domínio público, exemplo: Aluna pelo professor e vice versa, a coroa pelo garotão; o garotão pela cunhada, as paixões de fim-de-semana, as de verão, do carnaval, as de estâncias turísticas, de moça beata pelo padre novato, e... Mas, todas, - sem exceção – começam, de repente! De repente, no despertar da adolescência; o garoto – cheio de incômodas espinhas reveladoras – fica estático, hipnotizado por aquela garota maravilhosa do primeiro ano do ensino médio; o cabelo lindo, aquele olho lindo, aquela boca linda, enfim... Maravilhosa! Viva toda a estratégia da mãe natureza! O modo – supostamente recatado – como encosta os livros sobre os seios, (visivelmente aumentados pelo primeiro sutiã) denunciando sua inevitável e maravilhosa condição feminina, em plena ascendência hormonal. De repente, na paixão desenfreada pelo líder de uma banda de roque que ela jamais verá; e que só conheceu naquela semana, porque ele surgiu – de repente –nas revistas e álbuns do gênero. Ou, na nada repentina carícia demorada do toque absolutamente suado e trêmulo de nossas mãos apavoradas, bem no meio da platéia às escuras, naquele festival de teatro amador, ao qual fomos em caravana. Ou, de repente dentro do ônibus coletivo – quase na hora de descer – ela falando sem parar, de como o namorado a despreza, apesar de seu esforço para demonstrar-lhe amor; de repente, um beijo! “Toma meu telefone” e... Ficamos! Têm também as paixões que permanecem recolhidas por anos e, um belo dia – é, assim, de repente – “eu te amo!” Pronto! Altares esquecidos, juramentos quebrados, vidas desfeitas, para se viver o grande amor reprimido por inúmeras convenções da velha hipocrisia social. É verdade que, a imensa maioria das paixões que se enquadram no quadro acima morrem, sufocadas no silêncio comodista das conveniências; e viram zumbis emocionais; sentimentos mumificados, arrastando eternas correntes dentro do insaciável coração figurativo; que paixão mal resolvida, é como diabetes, você só se livra dela quando morre! Algumas são tão anticonvencionais quanto avassaladoras; como aquela com a colega de trabalho simpática e bonitona que se conhece a anos mas, com quem nunca se teve muito contato até que, um dia – sabe Deus porque – numa confraternização qualquer de fim-de-ano, vocês se olham, sorriem, dançam juntos e...Pá! Se descobrem, apaixonados! Aí é aquele festival de “love songs” no MSN, miríades de torpedos no celular e, flores, chocolates e cartões de presente; cinco banhos diários – principalmente de perfume –e uma hora-e-meia de tortura em frente ao espelho para escolher a roupa íntima ou a camisa que melhor combine com que calça; tudo no louco afã de impressionar o objeto do escravo amor escravagista. Até que num dia cinzento de fim-de-paixão - seja pela inconveniência estúpida do falatório dos colegas, ou, simplesmente pelo aparecimento de outra paixão ainda mais encantadora - um deles se cansa daquele “faz-de-conta-que-eu-te-amo” e diz: “Chega! Não quero mais! Aah! Aí é aquela baixaria de mil noites sem dormir; alma penada, escrevendo mil cartas de amor magoado, que nunca serão enviadas; febres de quarenta graus; greves de fome e fingidas tentativas de suicídio! Mas, ô bicho sádico e mesquinho, essa tal de “paixão-proibida” travestida de amor fatal! Ah! O eterno, lindo e dolorido amor inventado, sem o qual – graças a deus! – a vida da grande maioria de nós, não faria o menor sentido; seria mais ou menos como uma ostra sem pérola, não serve pra muita coisa, além de – quando muito - ser devorada. Isso tudo sem falar das inevitáveis e platônicas paixões desenfreadas dos poetas, esses românticos incorrigíveis e hospedeiros crônicos de uma incurável carência; como eu! (E olha que não falo só por mim, não). Agora, havendo a constatação “racional” – se é que isso é possível – de que tal amor, não tem a mínima possibilidade de realização, bem, o remédio é, esquecer... E receita infalível para amor não correspondido tem, meu confrade Lino Barbosa, Caxiense da gema, honorável membro da confraria dos cachacistas militantes: Compor uma música bem romântica, ou, escrever meia dúzia de sonetos; um belo porre no fim-de-semana, trancado no quarto, ouvindo Roberto Carlos, Maria Bethânia, ou coisa que os valha e...Pronto! Passada a carraspana, estará exorcizado para sempre, o desgraçado amor platônico. E de certa forma também este autor, exorciza aqui, suas vividas, pretensas ou possíveis paixões. E na segunda-feira, o insaciável coração vazio - essa fera onívora – recomeça sua busca por novas emoções, decepções e...Paixões! Max Costa (escritor e poeta) Idealizador e fundador da Confraria do Artista de Assis

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