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quarta-feira, abril 29, 2009

Pró-Labore (O vencedor)

A noite se fez madrugada,
No limiar da alvorada;
Cinzenta manhã gelada,
Cobre o guerreiro a dormir.

Que, encaixado ao seu amor
E abrigado ao cobertor,
Sente o prazer do calor,
Ainda sonhando sorrir.

Antes do sol cotidiano,
O despertador profano,
Grita o seu desengano,
Da hora do despertar.

E traz pra vida o guerreiro;
Num sobressalto ligeiro
Perscruta os sons do terreiro,
Nos ritos do levantar.

Ainda um beijo sedoso,
No peito macio e sestroso,
E um carinho manhoso,
Da companhia companheira.

Que ainda lhe puxa de fora,
Lhe pedindo – “não vá agora”!
E ele diz:- “Tá na hora”.
Vai começar a pauleira!

Outra jornada de luta.
Cotidiana labuta.
Inglória batalha injusta
Do corre-corre diário.

Pois guerrear é preciso;
Marchar! Neste chão que piso,
Quase perdendo o juízo,
Pra garantir um salário.

Pra irmos enchendo a pança;
Servindo na refestança,
E repagando a fiança,
Do nosso modo de vida.

Como quem recebe esmola,

Daquele que nos esfola,
Impondo alta penhora,
Nos cobra caro a guarida.

É que o sistema não sabe,
Que dentro de si não cabe,
Uma certeza que fale,
Da importância da mão.

Que impunha com força o martelo
Que brande a pena, solda o elo,
Tange o remo, o prumo, o cinzelo
Que corta a carne, amassa o pão.

É santa mão que alimenta,
A insaciedade sedenta,
Do onívoro que intenta
Abocanhar o sagrado.

Sem saber que, sem colono,
É feito mar de abandono,
Feito rei que não tem trono,
Feito quartel, sem soldado.

Por tanto continuemos,
Naquilo que mais fazemos,
Pois ao final, já sabemos,
Aonde tudo vai, dar.

Soldados emparelhados,
Em nichos, entrincheirados,
Cada qual com seu legado
Pra luta continuar.

Até que haja descanso;
Deitado em teu colo manso;
Breve trégua de remanso
Na luta de todo-dia.

Quando a lua beija o sol,
Em raios difusos de atol,
E vão pássaros no arrebol,
Cantando a ave-maria.

Mas antes de tudo isso,
O guerreiro submisso
Reassume o compromisso
Da armadura instantânea.

Antes, dura dor da realidade
Que a tola futilidade;
Prejudicial inutilidade
De fantasia momentânea!

Um beijo no filho amado,
A marmita; café requentado;
Esposa, abraço apertado;
Breve instante pra se benzer

E armado de unhas e dentes,
Vestindo a ilusão saliente,
Postado ao vão do batente,
Foi-se, para vencer!
Max Costa (Imagem: Ver Créditos)

Um comentário:

Wanderley Elian Lima disse...

Gostei muito do Pró-Labore.
Tenha uma ótimo feriadão.
Abraço

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